Frederico

É tudo tão tremendo descontrole,
companheiro
Esse fogo nos pneus
Esse fogo nos colchões
Esses pelo amor de deus
Essas férreas erupções
Esses corpos, companheiro
Esses vôos pelo céu
antes de morrer no chão
Esses gritos de calibre
Esses fogos de enxofre
Esses corpos, companheiro
essa vida nos porões

É tudo tanto, tanto triste e irremediável
Tanto fogo nos pneus
Tantas foices pelas mãos
Esse foi-se, o volta, o deus
As vazias plantações
Essas lonas, companheiro
essas hélices no céu
Os tratores pelo chão
Essa seca e dura fibra
Essa força que não quebra
Essas palmas, companheiros
esses sulcos dos sertões

Irremediável descontrole, meu amigo
Como haver revolução?
Como se apertando a água
Dentro de trêmulas mãos?
Aonde vamos, nós, senão
para a beira de um abismo?

Pois levanta os olhos lúcidos, comparsa
Pois se mesmo em céu nublado o sol incendeia a manhã!
Caso nos reste apenas esperança,
Façamos dela o fio, a corda, a trança
A segurar as irremediáveis mãos
- Mesmo que sobre a nós somente isso.
Não baixa os olhos lúcidos, Graniço
que a lucidez é o jeito de ficarmos sãos.


_