Fazia silêncio na praia, fazia silêncio espesso. Era tudo suave carinho do mar e sobre a areia branca deitava, sorrindo, o corpo sujo do marinheiro morto. Estranha cena aquela, o homem imundo e cinzento, sorrindo com os olhos refletidos no céu azul incólume. E sobre a cabeceira do cadáver uma cruz tosca de madeira olhando para baixo. Parecia, em verdade, que Bartolomeu Gota sentia o vento cálido de uma bênção. Fosse da praia, fosse da cruz.
Aos poucos, tímido, chega o guarani, o arco na mão esquerda. Parou na frente da cruz, olhando o corpo, e achou muito esquisito o sorriso. Desconfiou. E então, ainda devagar, foi embora, sem virar as costas.
Foi só vários minutos depois, lentas, em harmonia com a calma das ondas pequenas da praia, que vieram as formigas. Em fila, ordenadas, certas, vieram as formigas. Infinitas formigas pretas ergueram, aos poucos, o corpo de Bartolomeu Gota e começaram a levá-lo praia acima, ordenadas. Certas. Irresistivelmente arrastando Bartolomeu Gota para o esquecimento de seu destino na Terra Brasilis. Até sumirem definitivamente no escuro da floresta.
Fazia silêncio na praia.
E sob o sol desimpedido, tudo fazia frio.
Um busto lindo apareceu na praia. E o que ela cantava
com os olhos
encolhia, congelava
a areia, o sol, o ar.
Rolava pra trás o rio.