Seis Canções



I

Quando essa Lua toda for-se embora
Deixando apenas as estrelas mansas
Irei pousar os pés nesse remanso
E me largar a respirar sem ver a hora

E lembrarei daqueles tempos já passados
Sob os teus olhos que brilhavam luzes
Quando meu peito carregava cruzes
Mas suspirava ao te saber ao lado

Quando teus olhos se cerravam risos
Em que meu peito o palpitar perdia
Descompassado, a me pulsar os dias
Pra ouvir os anjos a tocar seus guizos

Quando eu pudesse ouvir enfim tua voz.
E os dias doces do meu chão perdido
Vão se perder em meus surdos ouvidos
Vão se esvair no vento tão veloz


Então à Lua, que no céu se some
Hei de soprar a mais frágil tristeza
Da minha alma, e ante tal beleza
A Lua há de voltar,
Só para ouvir teu nome



II
Estou sentado na varanda
Com meus dois pés a balançar
E passo os dias a contar, amor,
Em estupor de te esperar

As montarias se amontoam
Sob os meus pés chutando o ar
E voláteis amantes voam, sós
Lençóis de capa a flapejar

Mas há relâmpagos nos montes
E, meu futuro, aonde estás
Se o tempo lépido do ontem
Teus cabelos esconderam em jamais

Com a certeza de quem anda
Com corações a balançar
Passam por mim sereias com clangor
Passa o amor a se afogar

E os nossos dias a se desfazer
Em sonhos turvos de tenaz sabor
Amargo era o seu vulto a me dizer
Que só chorava de pavor

Mas há relâmpagos nos montes
E, minha bela, aonde vais
Sempre te espero e desde antes
De surgires e me deixares pra trás




III
Cinco mil fotos
nas minhas mãos.
Tantos sorrisos,
e olhos em vão.
De onde escuto
teu riso, hein?
Quisera eu te ver sorrindo aqui,
meu bem.

Tenho ouvido
'ma nota só.
Tenho ouvidos
sempre tão sós.
Porém duvido
de mim também.
Pode bem ser que tuas notas sejam mais
de cem.

Minha esperança
já foi falida.
Minha fiança
desprometida.
O tempo avança
num alazão.
Cinco mil fotos de sorrisos teus
nas minhas mãos.

Tempo de aço,
tempo inclemente,
forço meu passo,
passas à frente.
Como que eu posso
deixar-te ir?
Leva-me embora. Pois, querida, o tempo vive
em ti.


IV
Você me viu sem me esconder
Meu coração
Perdeu um passo a vacilar

Eu tropecei sem perceber
Nas minhas mãos
E tinha a boca a gaguejar

Vi minha mão se contorcer
E se encrespar
E vi você e olhei o chão

Mandei minha boca não roer
As minhas mãos
Mandei meu rosto levantar

Pra ver você a me encarar
Como se não
Tivesse os dedos a roer
Meu coração


V
Veio a Lua, Riegel, Marte,
e as estrelas vespertinas,
e Arcturus a iluminar-te
num clarão de creolina.

E vieram como pombos
a pousar suavemente,
e ao chegar, levavam tombos
e caiam à tua frente.

E perderam-se as estrelas
nos teus olhos de alabastro.
Que teimavam em prendê-las
sem deixar mais do que um rastro.

Assim, manchas espalhadas
em mar que ninguém navega,
lá perdidas, todas cegas,
pararam, petrificadas,

as ausências das estrelas.
E estão, desde então, paradas:
São somente luz de velas
do que foram. Quase nada.

- As suas luzes verdadeiras,
só se pode hoje senti-las
em risada que, ligeira,
atravesse as tuas pupilas.
-


VI

Quantas estrelas no céu!

Quantas que eu não conhecia!


Quando eu usava chapéu,

a noite: suave dossel.
E eu, cego, nem percebia.


Tantas estrelas no céu
Em volta da noite vazia.


Minha cabeça doeu

tentando lembrar por que eu

achava que te conhecia.


Quantas estrelas no breu.
Que música sua eu ouvia?


Sentia que o brilho era seu.

O escuro, veloz, se escondeu:

E era você que sorria.


2 comentários:

Unknown disse...

Ainda não soubemos encontrar,
essa figura esvanecida do amor...
Que tal qual já nos foi, nos parece que ainda virá.

Me parece que estando preparados para (entregues à) vida... Isso é coisa que acontece.

O amor transborda da vivência... e se encontra.

Ai, ai, disse...

hein.

naiara